quarta-feira, 6 de agosto de 2008

A sós, com os meus fantasmas

De mão dada com as estrelas

A sós, com os meus fantasmas

Fátima Ferreira

..."da minha infância, tenho só mágoas e recordações tristes. Vi a minha mãe sofrer e chorar, muitas vezes às escondidas, sem ter nada, sem comida para nos dar e sem nos poder proteger. Porque é que eu não consigo esquecer esses tempos tristes? Já lá vão tantos anos, gostava de esquecer tudo e poder morrer em paz..."
Juliana*

Estimada senhora
A dimensão do seu sofrimento comoveu-me profundamente e quero em primeiro lugar enviar-lhe um abraço apertadinho de conforto e dizer-lhe que não está só.
Compreendo a sua vontade em querer esquecer o passado. Esquecer não é possível, mas é possível pensar na sua infância sem sentir uma dor ainda tão presente e poderosa.
As feridas na alma nunca cicatrizam completamente, mas podemos apazigua-las com o tempo, com a procura dos porquês, com o perdão e isso, já é um passo enorme no sentido de libertação. A sua carta astral revela de facto uma infância atribulada e a violência em todas as formas, foi muitas vezes o pão nosso de cada dia no vosso lar!
Embora fossem tempos muito difíceis, eles não podem servir como desculpa para o comportamento ditador do seu pai. Estamos aqui apenas a tentar perceber um pouco dos motivos que o levavam a ser tão cruel. Penso que a agressividade com que ele vos tratava era também sinónimo de uma grande falta de amor, de carinho e de paz, a qual ele necessitava, mas que não encontrava dentro dele. O agressor sente-se pequenino e impotente, por isso recorre à violência, a querer provar que é mais forte do que se sente.
Só podemos dar o que temos...
Nada do que possamos aqui dizer ou fazer, fará o tempo voltar para trás. Mas a paz que o seu coração precisa não mora longe e tenho a certeza de que a senhora a encontrará, porque sei que tem capacidade para perdoar. Perdoe em primeiro lugar a si mesma, pois uma criancinha está sempre dependente dos pais, em todos os sentidos e não tem meios para proteger a mãe ou os irmãos, do que quer que seja ou que aconteça. O drama daquela época não podia ter sido evitado por si. Perdoar, pode ser um dos actos mais corajosos e ao mesmo tempo libertadores que o Criador do Universo semeou no nosso coração. Provavelmente estou apenas a confirmar o que a senhora já sabe, acredito que a sabedoria de tantos anos já vividos seja a ponte para a desejada paz.
Na sua história, há também motivos kármicos, ou seja, todo um enredo de outras vidas, que a acompanha a si e à família na qual nasceu. Por motivos de espaço nesta rubrica não me é possível aprofundar aqui muito mais, mas convido-a a visitar-me a fim de podermos aprofundar esta questão.
Os sonhos de que me fala, espelham claramente o desejo do seu espírito de sepultar o passado, não são um mau presságio, apenas a querem mover a fim de que a senhora se liberte desses fantasmas. Penso que o primeiro passo foi dado nesse sentido, quando decidiu contactar-me.
Que a merecida tranquilidade a acompanhe e se faça muita luz nas suas memórias.
Com carinho
Fátima Ferreira, astróloga dipl.
*nome modificado
Publicado no jornal O Templário de 2008-07-24

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