quinta-feira, 13 de novembro de 2008

ESTAMOS CONTIGO, PAI...

Carlos* é filho de um viciado no jogo e no tabaco. Escreveu-nos porque quer perceber o porquê do pai não sair do labirinto e se algum dia o conseguirá fazer.

Amigo Carlos*
O vício do jogo é na realidade a procura de satisfação de algo que ficou por realizar na infância. Quando uma criança não pôde brincar ou não aprendeu a fazê-lo, mais tarde procurará compensar essa falta. Por isso é tão importante que respeitemos as nossas crianças também no sentido de as deixarmos brincar e de as ensinarmos a estarem ocupadas. O "trabalho" de uma criança é brincar, nada mais. Pequenas tarefas são normais e importantes consoante a idade, desde que isso não lhe roube a infância.
No caso do teu pai, a estrutura familiar teve uma história algo delicada a qual ele não aceitou ainda e nem compreende no seu todo. Sabes que o facto de a mãe (tua avó) ter falecido muito cedo, fragilizou-o muito e a "entrega total" como tu dizes, ao tabaco, é também uma forma de satisfazer e de compensar a necessidade primária de se ser amamentado ao seio materno.
Perguntas se algum dia o teu pai sairá desse labirinto, pois caro amigo, sozinho não creio que ele o consiga. É necessário em primeiro lugar que ele queira abandonar as tardes e noites de jogo, sem essa vontade é muito difícil. Mas o apoio da família, teu, dos teus irmãos e da tua mãe, é fundamental. Sabes que enquanto lhe for apontado o dedo, ele nunca vai deixar de fazer o que faz, porque ele joga para se sentir um "vencedor", nem que seja uma vez na vida. Tentem fazer-lhe ver que só há quem ganhe, porque também existe quem perca. Sem uns, não existem outros.
Transmitam-lhe carinho e aproximem-se mais, só assim ele vai consentir em procurar ajuda especializada para superar esses traumas. Quando ele compreender que vocês estão com ele e não contra ele, é aí que ele vai perceber que está a destruir não só a própria saúde, como corre o risco da ruína financeira nessas maratonas do jogo.
Desejo a ti e à tua família muita persistência na tarefa de ajudar o teu pai, não desistam. E amigo Carlos, sei que nutres grande amor por ele, mas será que já lho disseste?...

*nome modificado
Fátima Ferreira
astrobalance@sapo.pt
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Texto publicado no jornal “Cidade de Tomar” de 2008-11-14

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